Viver é subir pela escada rolante do lado que desce.
Ouvindo essa frase imaginei qualquer pessoa nessa acrobacia que crianças
fazem ou tentam fazer: escalar aqueles degraus que nos puxam inexoravelmente
para baixo. Perigo, loucura, inocência, ou boa metáfora do que fazermos
diariamente.
Poucas vezes me deram um símbolo tão adequado para a vida, sobretudo
naqueles períodos difíceis em que até pensar em sair da cama dá vontade de
desistir. Tudo o que a gente queria era cobrir a cabeça e dormir, sem pensar em
nada, fingindo que não estmos nem aí...
Só que acomodar-se é abrir a porta para tudo isso que nos faz cúmplices do
negativo. Descansaremos, sim, mas tornando-nos filhos do tédio...
E o desperdício de nossa vida, talentos e oportunidades é o único débito que no final não se poderá saldar: estaremos no arquivo morto.
Não que a gente não tenha vontade ou motivos para desistir: corrupção,
violência, drogas, doenças, problemas no emprego, dramas na família... tudo
isso nos sufoca. Sobretudo se pertencemos ao grupo cujo lema é: pensar, nem
pensar... e a vida que se lixe.
A escada rolante nos chama para o fundo: não dou mais um passo, não luto,
não me sacrifico mais. Pra que mudar, se a maior parte das pessoas nem pensa
nisso e vive do mesmo jeito...
Mesmo que pareça quase uma condenação, a idéia de que viver é subir uma
escada rolante pelo lado que desce é que nos permite sentir que afinal não
somos assim tão insignificantes e tão incapazes...
Então, vamos à escada rolante: aqui e ali até conseguirmos saltar degraus de
dois em dois, como quando éramos crianças e muito mais livres, mais ousados e
mais interessantes.
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